top of page
Buscar
  • Foto do escritorCaio Sakamoto

O Stress

Stress seria um bom nome para um cão de guarda, pois o cachorro e o stress são os dois melhores amigos do homem. O stress é tão imprescindível à vida quanto a água. Falar que o stress é prejudicial à saúde, porque muitas pessoas estão morrendo estressadas, é o mesmo que dizer que a água é nociva, porque muitas pessoas morrem afogadas.


O que é stress, afinal?


O stress é um conjunto de reações desenvolvidas, testadas e aprovadas pela natureza, há milhões de anos, que prepara os animais para fugir ou lutar pela sobrevivência. O stress aguça os sentidos, aumenta temporariamente a energia, a força muscular e a resistência contra infecções.


A maioria dos animais vive atenta em seu hábitat, captando e interpretando sons, cheiros e imagens. A percepção de um perigo iminente de agressão desencadeia imediatamente reações de alarme ou stress que produzem intensas modificações fisiológicas no organismo do animal, preparando-o para agir.


Na luta pela sobrevivência das espécies, uma fração de segundo pode significar a diferença entre a vida e a morte. Assim, diante de uma ameaça, instantaneamente o coração do animal dispara, a pressão arterial aumenta, as pupilas e os brônquios se dilatam, pêlos, penas ou barbatanas se eriçam, os vasos sangüíneos periféricos se contraem, os músculos ficam tensos, a taxa de açúcar no sangue se eleva etc.


Se a emoção for muito intensa, ocorre também relaxamento dos esfíncteres do reto e da bexiga, e o animal elimina urina e fezes para causar repugnância e prejudicar o olfato do agressor. Ao se confrontarem, tanto a caça quanto o predador ficam bastante estressados, e a conseqüência imediata será uma atividade física na forma de luta ou fuga. Durante o combate, as dores podem prejudicar a concentração do animal, tornando-o vulnerável. A natureza procura minimizar esse inconveniente, lançando endorfinas na circulação, substâncias químicas idênticas à morfina, com grande poder analgésico. Após os esforços físicos, quando o excesso de adrenalina foi consumido, a ação endorfínica prevalece e os combatentes relaxam naturalmente. Pouco tempo depois, as endorfinas também são metabolizada, e as dores dos ferimentos começam a se manifestar.


Estudos científicos, utilizando técnicas sofisticadas como reflexograma e eletromiografia, demonstraram que 40 minutos de esforços físicos, como marchas, natação ou corrida, liberam na circulação endorfinas em quantidade suficiente para produzir um relaxamento muscular semelhante ao obtido pela ingestão de 400 mg de meprobamato (um comprimido de 200 mg é suficiente para produzir um bom efeito tranqüilizante).


Além disso, o suor dos animais superiores, que desenvolveram a transpiração como forma de dissipar o calor gerado pela atividade física, contém substâncias químicas voláteis que, inaladas pelo próprio animal, também estimulam o relaxamento muscular e a volta à normalidade. Essas substâncias já foram isoladas, e a indústria farmacêutica está tentando desenvolver sprays inaláveis para serem comercializados como relaxantes.

Resumindo, a resposta fisiológica, há milhões de anos, tem sido:



Entretanto, nós, humanos, evoluímos e nos diferenciamos dos outros animais, por termos desenvolvido sobremaneira a região frontal do cérebro, onde se processa o planejamento do futuro. Assim, passamos a nos preocupar e a nos sentir ameaçados com situações imaginárias, que não representam um perigo de vida efetivo, como, por exemplo, perder o emprego, sofrer um improvável acidente aéreo, dificuldades financeiras etc.


Ao assistir a um filme de suspense, os espectadores conseguem, com a força da imaginação, colocar-se no lugar dos personagens e “viver” a cena. Por outro lado, a natureza cumpre o seu papel...




Entretanto, a platéia procura se controlar e todos ficam sentados, tensos, de cabelos em pé, boca seca, mãos molhadas, “curtindo” o filme até o fim. E, na saída, comentam que o filme foi ótimo, muito excitante!


Viver em sociedade implica saber se controlar, ponderar, discutir com moderação, em suma, não brigar, não agredir! Desde crianças somos condicionados a reprimir nossa agressividade natural e a usar a razão para defender nossos interesses. Entretanto, argumentações inteligentes exigem maior atividade mental, que aumenta a ansiedade e a tensão, formando um círculo vicioso que exacerba o stress e desencadeia um grande número de doenças psicossomáticas. Quando o stress não resulta em atividades físicas, mesmo “vencendo” uma discussão, não relaxa- mos totalmente. Continuamos um pouco tensos, irritados. Por isso, o próximo stress já desencadeia uma resposta mais intensa que o necessário, ou seja, desproporcional ao estímulo. É comum ocorrerem agressões violentas motivadas por uma simples ofensa verbal. Os protagonistas costumam ser pessoas com stress acumulado.


O que fazer então para canalizarmos o stress e não ficarmos tensos e agressivos?


O primeiro passo é compreender muito bem os mecanismos fisiológicos do stress na espécie humana.


Algumas comparações com outras espécies do mundo animal são muito elucidativas.


Enquanto um leão tem dois ou três desejos de ordem fisiológica a cada dia, o homem vive com a cabeça cheia de projetos e preocupações que, em última análise, são desejos a ser realizados.



A parte primitiva (irracional) da mente nos pre- para então para “lutar” pelos nossos desejos (ou anseios), lançando adrenalina na circulação sanguínea. A adrenalina gera um estado de ansiedade que nos deixa tensos, com a glicemia elevada, prontos para utilizar plenamente a força muscular.


Entretanto, a solução da grande maioria dos nos- sos desejos não requer forte participação física. Ao contrário, a tensão excessiva atrapalha a realização de atividades mais delicadas que exigem a participação precisa de pequenos grupos musculares, como se apresentar em público discursando ou tocando um instrumento musical. A essa tensão excessiva alguns chamam de “stress ruim”. Preferimos não usar esse termo, por julgarmos que não existe stress bom (eustress) nem ruim (distress). O stress é uma resposta fisiológica estereotipada no mundo animal. Se uma pessoa pode até morrer ao ganhar um grande prêmio, como podemos inferir que foi um stress bom? Tão bom que o matou?! Portanto, preferimos adotar a nomenclatura de stress solucionado, para as respostas fisiológicas, e stress persistente, para as respostas indesejáveis ou anormais.


Quando ficamos adultos, nossos desejos aumentam e, ao mesmo tempo, nos tornamos cada vez mais sedentários. Vivemos, quase todos, muito tensos em decorrência da pressa mental e inatividade física. É fácil concluir que, para evitar o acúmulo de stress, a primeira atitude a ser tomada deve ser reflexiva, procurando reduzir a quantidade de desejos e, conseqüentemente, a ansiedade, tendo em mente que o im- portante não é ter muito, é precisar de pouco.


Ainda assim, estaremos expostos a muitas causas de stress que não podem ser evitadas. Esse stress precisa ser canalizado através de atividades físicas, para não ficar acumulado. Assim sendo, a segunda atitude deverá ser de ordem física.

Precisamos praticar diariamente uma atividade esportiva qualquer, para aliviar a tensão. Fica evidente que quaisquer outras maneiras usadas para relaxar, como saunas, massagens, álcool e calmantes, não são fisiológicas e, a longo prazo, os resultados são insatisfatórios. O stress persistente acaba provocando esgotamento físico e mental e, além de diminuir a resistência a infecções, prejudica o funcionamento dos aparelhos cardiovascular, digestivo e respiratório e do sistema neuroendócrino, sendo o principal responsável pela grande maioria das doenças do homem civilizado. Concluindo, o stress é o seu melhor amigo. Porém procure mantê-lo sob controle. Cuida- do, não abuse muito! Ele pode morder você.



159 visualizações0 comentário
bottom of page